segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

JOHN KENNEDY APANHA MANGAS EM BELÉM

Salomão Larêdo, escritor e jornalista


Manhã de domingo quase véspera de Natal em Belém do Pará e John Kennedy continua seu mister de apanhador de manga nas centenas de árvores da espécie no centro da cidade, mais precisamente, no bairro de são Brás. Vigilante de profissão, tem que fazer biscate pra completar as necessidades da família – mulher e 4 filhos. Daí, madrugar olhando mangueiras e frutos. Faz isso, há 26 anos.


- Não posso apanhar verde. Tem que ser no ponto, o que chamamos “de vez”, do contrário, não serve, apodrece.

- Quantas mangas apanhaste?

- Hoje, das 6 da manhã por volta de de10, 11 horas da manhã, levo umas 1.400 mangas.

- Quanto vais ganhar?

- Uns 130 reais.

- Dá?

- Pra mim, é um dinheirão.

- E quando não tem manga, o que fazes?

- Sou vigilante, de profissão e no período de outubro a janeiro, apanho manga, fora deste tempo, sou encanador e com meu carro, faço transporte de qualquer mercadoria.


John Kennedy é dono de carreta e roda a cidade a procura de manga. Com vara de bambu, uma sacola e um estilete na ponta, corta os cachos e as mangas caem na sacola e ele, sentindo o peso, despeja na carreta.


- Faço isso sozinho, as vezes trago um ajudante.

- Pra quem vendes as mangas?

Vendo na feira da 25, pra um feirante freguês ou na feira do Ver-o-Peso, depende. Esta de hoje vou vender na feira da 25.

Estudaste?- Tenho o segundo grau, completo.

- Por que não continuaste?

- Porque logo arranjei mulher e filhos.

- E agora, não dá pra continuar, fazer vestibular?

- Não, não dá

O que tu querias ser?

- Queria ser advogado. Queria fazer o curso de Direito.

- E quem te colocou este nome, John Kennedy?


- Foi meu pai, que era admirador do presidente americano, John Kennedy.

- Então nasceste na década de 1960?

- Nasci em 1966, no bairro do Umarizal.

- Como é o nome do teu pai?

- Antonio Maia de Jesus Chaves.


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